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Comunidade Escolar

“Se esta rua, se esta rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante
Para o meu, para o meu amor passar”
(Cultura Popular Brasileira)

A unidade escolar está localizada no Jardim Detroit, aproximadamente a oito quilômetros do centro da cidade de São Bernardo do Campo.
Desde a fundação do bairro, por volta dos anos 70, os moradores organizam-se para reivindicar as melhorias. Nessa época, criaram a Sociedade Amigos do Bairro que funciona até os dias atuais, próximo à unidade escolar. Este órgão teve e tem uma participação fundamental em diversas conquistas, especialmente na construção de nossa unidade escolar e das demais que existem no bairro: EE Jean Piaget, EMEB Ana Maria Poppovic, EMEB Ari Lacerda Rodrigues.
Em reunião pedagógica realizada em 2015 em que tivemos a presença de dois antigos moradores, Sr. Osvaldo e Sr. Manoel, a equipe escolar teve a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a história da fundação do bairro:

 “Em 1973 esse Bairro era formado por chácaras e havia apenas 14 casas, todas feitas de madeira. Tinha muito pé de amora. Neste tempo, não existiam ruas e a comunidade sofria com as constantes enchentes. Os moradores se juntaram e reivindicaram por construção das ruas e por saneamento básico, conversando diretamente com o prefeito da época. É muito bom conhecer tão bem esse bairro, ver crescer e fazer parte de sua história. Para resolver os problemas e ajudar a comunidade tem que conhecer... alguns prefeitos exercem seus mandatos sem conhecer os problemas do bairro, porque não visitam o local e não conversam com os moradores.” (Relato do senhor Osvaldo Gomes da Silva, membro da Sociedade Amigos do Bairro e um dos primeiros moradores do Jardim Detróit em Reunião Pedagógica realizada no dia 27 de março de 2015).

Na década de 80, com o loteamento das chácaras, a explosão demográfica e o crescimento desordenado de moradias, houve o aumento da violência e a inserção do tráfico de drogas.
 “A escola foi construída num terreno que, inicialmente, servia para brincarmos livremente.” (relembram a professora Fabiola e a auxiliar em educação, Dalva - 2015).

Com as mudanças ambientais, estruturais, sociais, aliadas à falta de segurança, as crianças perderam esse espaço. Essa área passou a ser considerada perigosa, servindo à criminalidade, além de depósito de lixo. Em 2007, com a construção e inauguração da escola, foi devolvido às crianças o lugar de vivência da infância. Nesse mesmo ano, realizamos a experiência de conhecer o entorno, com toda a equipe escolar.  Olhamos, reparamos e refletimos sobre as dificuldades e as possibilidades que o bairro oferece.
Nas proximidades da escola, reparamos que há um parque que fora construído sobre o que antes era um córrego, área conquistada também pela mobilização da Sociedade Amigos do Bairro. Este local foi idealizado para ser uma área de lazer em que é possível fazer caminhadas, exercícios em equipamentos de madeira e para as crianças brincarem no playground.
A Praça Daniel Cesário Barbosa, próxima ao cemitério da Vila Carminha, é outra opção que a comunidade teria para levar as crianças, realizar passeios e caminhadas. Há um contraste de consciência ecológica – preservação do meio e lixo.  Algumas áreas verdes nesses locais são preservadas: trepadeiras, canteiros, plantas e flores e algumas pessoas se preocupam com a estética. 
Ao lado da EMEB Ana Maria Popovic, há uma quadra coberta utilizada com a comunidade e onde é possível levar as crianças para brincarem. 
Esses espaços são ricos para a brincadeira e as relações sociais, fundamentais para o desenvolvimento humano, já que, no atual contexto, as casas perderam os seus quintais, além de possuírem cômodos mais apertados e, por consequência, muitas vezes, as crianças são obrigadas a ficarem confinadas, geralmente em frente à TV ou recursos midiáticos.
Em algumas ruas do bairro, há muito trânsito de automóveis, o que também, compromete a liberdade de brincar das crianças. É comum vermos as crianças das casas vizinhas brincarem na calçada em frente à escola, pulando amarelinha ou sobre os muros e lajes empinando pipa. Nos finais de semana, crianças brincam na rua sem saída, na lateral da escola, inclusive, sabemos que entram na escola para usar o parque.
É comum, moradores transformarem garagens em pequenos comércios (salão de cabelereiro, lojas, bazares, bares, brechós, sorveterias, doçarias, entre outros). Há também muitos templos religiosos, o que demonstra a fé da comunidade e suas diversas crenças.  
Reparamos ambientes que se contrastam, pequenas áreas verdes, bem cuidadas pelos moradores, revelam o carinho e respeito pela natureza, dividem o espaço com sacos cheios de lixo, por falta de espaço apropriado. As caçambas são insuficientes para armazenar todo o volume de dejetos, que acabam por ficar espalhados pela calçada. Em contrapartida, há vários locais de reciclagem e coleta seletiva de iniciativa privada e muitos “catadores autônomos”. O caminhão de lixo passa nas segundas, quartas e sextas-feiras para recolher o lixo orgânico. Apesar de ser divulgado o dia do “Bota-Fora” (serviço público de retirada de móveis e equipamentos em desuso), observamos o hábito de depositar nas calçadas: camas, sofás, armários, colchões, gavetas, etc. junto com o lixo orgânico.

Embora o bairro tenha sofrido com o crescimento desordenado para construção das moradias, nos encantamos em ver que as pessoas da comunidade se preocupam em cultivar plantas em espaços pequenos ou vaso e que conservam um pouco das belezas naturais: jardins, árvores frutíferas, ervas medicinais, que atraem passarinhos e borboletas. É comum a criação de animais domésticos nos lares, como: galinha, pintinho, cachorro, gatos, o que demonstra também, necessidade de manter uma relação harmoniosa com a natureza. 

Reparamos os muros e as pichações (arte urbana) que, de certo modo, revelam o pensamento dos jovens moradores. Algumas escritas parecem uma afronta, como por exemplo, no portão de uma empresa onde está escrito: “Eu picho, você pinta, vamos ver quem tem mais tinta”. Outras revelam o respeito da comunidade pelas crianças, como no próprio muro da escola, onde há anotação: “Cuidem de nossas crianças, elas são razão, o futuro e a esperança”.



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